quinta-feira, 30 de junho de 2011
Bujanovac: uma cidade partida aos bocados
Um pós-pequeno almoço na vizinhança em Bujanovac
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Uma refeição pode ser um acto de coragem
Uma refeição na Sérvia é um desafio. Nunca se sabe a que horas pode terminar. Um almoço, por exemplo, pode começar perfeitamente às duas da tarde e terminar às onze ou meia-noite ou uma da manhã. Mais: não só pode, aliás – é comum que aconteça. E isso talvez explique várias coisas: a primeira é que a Sérvia é o terceiro país no mundo com mais mortes por acidentes cardio-vasculares. Voltemos à refeição: um almoço ou um jantar na Sérvia começa impreterivelmente com uma (ou duas ou três) rakia, uma bebida sérvia – de quase todos os Balcãs, na realidade – feita à base de frutos como ameixa ou maçã, com um sabor intenso, mas agradável. Qualquer sérvio que se preze tem rakia feita em sua própria casa, e tomará como um insulto que um estrangeiro ou um visitante não a prove. Em matéria de consumo, há vários perfis: o normal é que se beba uma ou duas antes de uma refeição mas um verdadeiro sérvio achará risível que alguém – um turista, por exemplo - a tome como um shot. E é risível de facto: ao fim de um terceiro shot, essa pessoa estará a rebolar no chão. Pessoas mais velhas, no entanto, usam-no como o que em Portugal, e em particular no Algarve, chamariamos de mata-bicho: dois pequenos copos antes do pequeno-almoço são o segredo para 30 anos sem sequer uma gripe. A comida acaba por acabar de explicar a questão dos AVC's. Basicamente, a alimentação na Sérvia é baseada em churrasco (hamburguéres, bifes, salsichas), paprika e pão. E cerveja, naturalmente. Tudo em doses muito mais do que generosas. Um verdadeiro sérvio pode comer durante horas a fio. E é por isso que é comum dizer que na Sérvia, um homem a sério tem de ter pelo menos 90 quilos. Pessoalmente, ainda estou um pouco longe de ser um, mas a este ritmo, qualquer pessoa lá chega.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
A minha segunda vez
Há quem diga que a primeira vez é especial. Esta foi a minha segunda. Em Belgrado, esclareça-se. A primeira foi uma fugaz estadia de três dias, vincada por um relativo stress turístico e por uma bagagem pesada que me marcou indelevelmente as costas. Nisto do turismo – principalmente aquele à japonesa, de fotografar tudo e mais alguma coisa -, querer ver tudo normalmente resulta em não ver nada (ou pelo menos, e o que é mais importante, não conhecer nada). O que trouxe na memória da primeira vez, que foi há relativamente pouco tempo, cerca de um ano - para além da correria - foram as mulheres bonitas e uma fortaleza com uma vista para os rios Danúbio e Sava que me parece ser - e é, de facto, confirmado à terceira - um dos meus sítios favoritos no mundo.
A segunda vez foi ontem. Também em turismo (relativo), mas por minha conta e risco. Depois de três voos desgastantes (e um último turbulento, a partir de Zurique, onde tinha por companhia uma sérvia obesa que se benzeu pelo menos uma dúzia de vezes durante o voo) aterrei no Nikolas Tesla. Depois de recolhidas as bagagens, seguiu-se por um ritual de assédio por parte dos taxistas, que trataram de me “explicar” as semelhanças entre eles e os seus camaradas de profissão portugueses: seis ou sete ofereciam-me boleia para Belgrado por 20 euros, depois 18, depois 15. Eu nem tinha euros – só dinares sérvios. Em último recurso, o taxista mais persistente ainda tentou avisar-me que naquele dia não haviam autocarros – confirmando de novo (e ainda mais) as parecenças com os seus companheiros meus patrícios -, perguntando de seguida qualquer coisa em sérvio a outro taxista, que confirmou rapidamente com a cabeça, que não, não havia autocarros para Belgrado. Eu disse que não havia problema e juntei-me a mais uma dezena de pessoas que por ali andavam. Em cinco, seis minutos, aparecia um autocarro. Olhei em volta. O taxista que me tentara enganar – com pouco jeito e também não muita convicção, confesso – já não andava por ali. Depois de vários minutos tentando fazer-me entender com um revisor sérvio pouco dado a línguas, e de alguns encontrões com as bagagens noutros passageiros, tinha bilhete comprado (por 120 dínares sérvios, qualquer coisa como 1 euro e 20) e estava on my way para o centro de Belgrado num autocarro que em Portugal teria parecido vagamente terceiro-mundista mas que, não obstante, tinha um televisor accionado. O percurso, relativamente curto mas com algum trânsito (cerca de uma hora) era totalmente desconhecido para mim, mas pareceu-me dizer mais da Sérvia e de Belgrado do que os três dias do ano passado. Já em Belgrado, vagamente perdido depois de sair do autocarro, uma rapariga sérvia olhou para mim e subitamente interpelou-me perguntando se precisava de alguma coisa. Respondi que não, estava apenas à procura de indicações para ir à estação de autocarros de Belgrado. No entanto, ela não me deu indicações. Foi antes comigo numa caminhada de 15 minutos ao sítio por que lhe tinha perguntado, fazendo uma muito simpática conversa de circunstância. Depois de chegarmos, apontou-me o sítio e despediu-se, apertando-me apenas a mão e pondo um despretensioso sorriso, como se andasse em Belgrado apenas para levar pessoas aos sítios onde elas precisam de ir. Dois minutos depois, quando ela já desaparecera por entre as ruas movimentadas, apercebi-me de que lhe devia ter pago uma cerveja – ou um sumo, ou uma água, ou... Dez minutos depois, enquanto bebia a minha Jelen de meio litro numa esplanada, com as bagagens pousadas, vendo passar os homens e as mulheres – principalmente, as mulheres, as mulheres! - apercebi-me de que (e não querendo parecer destruidor de frases feitas), a segunda vez já tinha muito mais encanto que a primeira. Belgrado já é uma das minhas cidades.