sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Da Argentina (e não só) para o Mundo: Dixit - como quem diz - e i - de informação


A vossa atenção para uma magazine de informação online sediada em Buenos Aires mas que se pretende venha a ser de abrangência mundial. Com correspondentes em vários pontos do Globo - incluindo este que vos escreve, a partir de Portugal - o (ou a?) Dixiti é já um filho da segunda década deste século XXI. Aqui vos deixo um excerto do artigo original (em português) que publiquei no "primeiro número" do Dixiti:

"Um País contra um Nobel da Literatura, José Saramago, ou a reconciliação (póstuma) à vista


A identidade de um país faz-se de muitas coisas: da sua geografia, da sua história, política e também – e nalguns casos, porventura, mais importante – das suas personalidades mais destacadas. Um escritor, por exemplo, pode ser o maior símbolo de uma nação – e, mesmo assim, ter uma relação tumultuosa com a mesma. A história está cheia de exemplos. E, normalmente, os problemas partem de motivos políticos: Milan Kundera e a República Checa ou Luís Sepúlveda e o Chile são só alguns dos escritores da actualidade com “ajustes de contas” com o seu país de origem.
Mas esta história não tem (só) a ver com política. Oriundo de uma família humilde (os pais e avós eram agricultores) nada em José de Sousa Saramago (nascido em 1922) fazia antever um futuro brilhante. Sem dinheiro para estudos universitários, frequentou o ensino técnico, após o que começou a trabalhar como serralheiro mecânico. Ao mesmo tempo, o seu interesse pela cultura e pela literatura avoluma-se: enquanto trabalha durante o dia, à noite frequenta bibliotecas e apaixona-se pelos livros. Aos 25 anos, José Saramago publica «Terra do Pecado», o seu primeiro romance, que acabou ignorado. Depois deste fracasso, o autor tenta publicar uma segunda obra, de nome «Clarabóia», que acaba rejeitada pelo seu editor – e que, devido ao facto, permanece inédita até aos dias de hoje. Saramago investe então na poesia, área em que publica cinco volumes – também relativamente mal sucedidos. No entanto, José Saramago consegue algum respeito no mundo editorial e passa a trabalhar na área da edição e, posteriormente, dos jornais: trabalha no Diário de Lisboa e no Diário de Notícias (DN).
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, que acaba com o Estado Novo – uma ditadura imposta muitos anos antes, por António de Oliveira Salazar, então já falecido -, José Saramago volta ao DN como director-adjunto. O período que se seguiu à revolução, em que estava iminente a implantação de um regime afecto à União Soviética, lançava José Saramago, um iminente intelectual comunista, como o ideal para fazer vingar a revolução (também através da influência do mais importante jornal da época). Uma vez no cargo de director-adjunto do jornal, Saramago não deixou dúvidas em relação ao que queria para o futuro do país e do jornal. “O DN vai ser o instrumento, nas mãos do povo português, para a construção do socialismo”, escrevia. Mas nem toda a gente concordava com isto. Por isso, a 27 de Agosto de 1975, 22 jornalistas são despedidos por delito de opinião. “Informação revolucionária não se faz com jornalistas contra-revolucionários. Por isso, os que eram foram afastados”, justifica o DN em texto não assinado, mas da responsabilidade de José Saramago. Esta era a primeira polémica em que se via envolvido.
(...)"

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