segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Declaração

A memória é bem traiçoeira. Nem queiram saber. Falo por mim: eu tenho uma memória de merda. Uma pessoa pensa e sente-se defraudada: são coisas simples, óbvias, qualquer gajo devia lembrar-se disto - e nada. Não contem comigo para isso da memória. Esqueço-me, pronto. Mas há pior. Um gajo pode perfeitamente não se lembrar de coisas que aconteceram - é uma disfunção normal, pronto, embora seja irritante.
Mas lembrar-se de merdas que não aconteceram - ou que, por exemplo, não se viveu -, isso mete um gajo noutro domínio: o domínio psiquiátrico. Ora imaginem que eu, agora, começava a contar - com pormenores - as minhas incursões na Revolução Francesa. De como foi bonito o 25 de Abril de 74. Como é que isto vos soava? Exacto. Mas bem, o problema é que isto não é tão inusitado assim. Eu, por exemplo, convivo com pessoas que sofrem deste problema: é gente que se recorda como se fosse hoje de um Benfica - Sporting de 1979 que acabou 3-2 para o Benfica. Isto gente que vem a nascer em 80 e troca o passo. Mas se formos distraídos, a coisa segue, nem damos por isso. Quem diz um Benfica - Sporting, diz um Farense - FC Porto, um Tirsense - Barreirense ou uma telenovela qualquer.
Vem isto a propósito de uma declaração. De amor. A minha memória é fraquinha mas permite-me opinar, com a propriedade possível: Ronaldo Nazário de Lima foi o mais extraordinário jogador de futebol que vi jogar. Não há iutúbe que me desminta. Ronaldo era estrela, mágico, portento, força da natureza. Fenómeno. Já está: 34 anos e muitos quilos (e golos, já agora) depois, alguns filhos (não se sabe bem quantos, se quatro, se dez), uma vasectomia e uns travestis. Do alto dos meus dez ou onze anos, aquilo que fez bastaria para ser o melhor de sempre. De longe.

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