segunda-feira, 20 de junho de 2011

Uma refeição pode ser um acto de coragem

Uma refeição na Sérvia é um desafio. Nunca se sabe a que horas pode terminar. Um almoço, por exemplo, pode começar perfeitamente às duas da tarde e terminar às onze ou meia-noite ou uma da manhã. Mais: não só pode, aliás – é comum que aconteça. E isso talvez explique várias coisas: a primeira é que a Sérvia é o terceiro país no mundo com mais mortes por acidentes cardio-vasculares. Voltemos à refeição: um almoço ou um jantar na Sérvia começa impreterivelmente com uma (ou duas ou três) rakia, uma bebida sérvia – de quase todos os Balcãs, na realidade – feita à base de frutos como ameixa ou maçã, com um sabor intenso, mas agradável. Qualquer sérvio que se preze tem rakia feita em sua própria casa, e tomará como um insulto que um estrangeiro ou um visitante não a prove. Em matéria de consumo, há vários perfis: o normal é que se beba uma ou duas antes de uma refeição mas um verdadeiro sérvio achará risível que alguém – um turista, por exemplo - a tome como um shot. E é risível de facto: ao fim de um terceiro shot, essa pessoa estará a rebolar no chão. Pessoas mais velhas, no entanto, usam-no como o que em Portugal, e em particular no Algarve, chamariamos de mata-bicho: dois pequenos copos antes do pequeno-almoço são o segredo para 30 anos sem sequer uma gripe. A comida acaba por acabar de explicar a questão dos AVC's. Basicamente, a alimentação na Sérvia é baseada em churrasco (hamburguéres, bifes, salsichas), paprika e pão. E cerveja, naturalmente. Tudo em doses muito mais do que generosas. Um verdadeiro sérvio pode comer durante horas a fio. E é por isso que é comum dizer que na Sérvia, um homem a sério tem de ter pelo menos 90 quilos. Pessoalmente, ainda estou um pouco longe de ser um, mas a este ritmo, qualquer pessoa lá chega.

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