quarta-feira, 6 de julho de 2011
Até no meio do caos há esperança
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Bujanovac: uma cidade partida aos bocados
Um pós-pequeno almoço na vizinhança em Bujanovac
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Uma refeição pode ser um acto de coragem
Uma refeição na Sérvia é um desafio. Nunca se sabe a que horas pode terminar. Um almoço, por exemplo, pode começar perfeitamente às duas da tarde e terminar às onze ou meia-noite ou uma da manhã. Mais: não só pode, aliás – é comum que aconteça. E isso talvez explique várias coisas: a primeira é que a Sérvia é o terceiro país no mundo com mais mortes por acidentes cardio-vasculares. Voltemos à refeição: um almoço ou um jantar na Sérvia começa impreterivelmente com uma (ou duas ou três) rakia, uma bebida sérvia – de quase todos os Balcãs, na realidade – feita à base de frutos como ameixa ou maçã, com um sabor intenso, mas agradável. Qualquer sérvio que se preze tem rakia feita em sua própria casa, e tomará como um insulto que um estrangeiro ou um visitante não a prove. Em matéria de consumo, há vários perfis: o normal é que se beba uma ou duas antes de uma refeição mas um verdadeiro sérvio achará risível que alguém – um turista, por exemplo - a tome como um shot. E é risível de facto: ao fim de um terceiro shot, essa pessoa estará a rebolar no chão. Pessoas mais velhas, no entanto, usam-no como o que em Portugal, e em particular no Algarve, chamariamos de mata-bicho: dois pequenos copos antes do pequeno-almoço são o segredo para 30 anos sem sequer uma gripe. A comida acaba por acabar de explicar a questão dos AVC's. Basicamente, a alimentação na Sérvia é baseada em churrasco (hamburguéres, bifes, salsichas), paprika e pão. E cerveja, naturalmente. Tudo em doses muito mais do que generosas. Um verdadeiro sérvio pode comer durante horas a fio. E é por isso que é comum dizer que na Sérvia, um homem a sério tem de ter pelo menos 90 quilos. Pessoalmente, ainda estou um pouco longe de ser um, mas a este ritmo, qualquer pessoa lá chega.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
A minha segunda vez
Há quem diga que a primeira vez é especial. Esta foi a minha segunda. Em Belgrado, esclareça-se. A primeira foi uma fugaz estadia de três dias, vincada por um relativo stress turístico e por uma bagagem pesada que me marcou indelevelmente as costas. Nisto do turismo – principalmente aquele à japonesa, de fotografar tudo e mais alguma coisa -, querer ver tudo normalmente resulta em não ver nada (ou pelo menos, e o que é mais importante, não conhecer nada). O que trouxe na memória da primeira vez, que foi há relativamente pouco tempo, cerca de um ano - para além da correria - foram as mulheres bonitas e uma fortaleza com uma vista para os rios Danúbio e Sava que me parece ser - e é, de facto, confirmado à terceira - um dos meus sítios favoritos no mundo.
A segunda vez foi ontem. Também em turismo (relativo), mas por minha conta e risco. Depois de três voos desgastantes (e um último turbulento, a partir de Zurique, onde tinha por companhia uma sérvia obesa que se benzeu pelo menos uma dúzia de vezes durante o voo) aterrei no Nikolas Tesla. Depois de recolhidas as bagagens, seguiu-se por um ritual de assédio por parte dos taxistas, que trataram de me “explicar” as semelhanças entre eles e os seus camaradas de profissão portugueses: seis ou sete ofereciam-me boleia para Belgrado por 20 euros, depois 18, depois 15. Eu nem tinha euros – só dinares sérvios. Em último recurso, o taxista mais persistente ainda tentou avisar-me que naquele dia não haviam autocarros – confirmando de novo (e ainda mais) as parecenças com os seus companheiros meus patrícios -, perguntando de seguida qualquer coisa em sérvio a outro taxista, que confirmou rapidamente com a cabeça, que não, não havia autocarros para Belgrado. Eu disse que não havia problema e juntei-me a mais uma dezena de pessoas que por ali andavam. Em cinco, seis minutos, aparecia um autocarro. Olhei em volta. O taxista que me tentara enganar – com pouco jeito e também não muita convicção, confesso – já não andava por ali. Depois de vários minutos tentando fazer-me entender com um revisor sérvio pouco dado a línguas, e de alguns encontrões com as bagagens noutros passageiros, tinha bilhete comprado (por 120 dínares sérvios, qualquer coisa como 1 euro e 20) e estava on my way para o centro de Belgrado num autocarro que em Portugal teria parecido vagamente terceiro-mundista mas que, não obstante, tinha um televisor accionado. O percurso, relativamente curto mas com algum trânsito (cerca de uma hora) era totalmente desconhecido para mim, mas pareceu-me dizer mais da Sérvia e de Belgrado do que os três dias do ano passado. Já em Belgrado, vagamente perdido depois de sair do autocarro, uma rapariga sérvia olhou para mim e subitamente interpelou-me perguntando se precisava de alguma coisa. Respondi que não, estava apenas à procura de indicações para ir à estação de autocarros de Belgrado. No entanto, ela não me deu indicações. Foi antes comigo numa caminhada de 15 minutos ao sítio por que lhe tinha perguntado, fazendo uma muito simpática conversa de circunstância. Depois de chegarmos, apontou-me o sítio e despediu-se, apertando-me apenas a mão e pondo um despretensioso sorriso, como se andasse em Belgrado apenas para levar pessoas aos sítios onde elas precisam de ir. Dois minutos depois, quando ela já desaparecera por entre as ruas movimentadas, apercebi-me de que lhe devia ter pago uma cerveja – ou um sumo, ou uma água, ou... Dez minutos depois, enquanto bebia a minha Jelen de meio litro numa esplanada, com as bagagens pousadas, vendo passar os homens e as mulheres – principalmente, as mulheres, as mulheres! - apercebi-me de que (e não querendo parecer destruidor de frases feitas), a segunda vez já tinha muito mais encanto que a primeira. Belgrado já é uma das minhas cidades.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Se é para regressar, ao menos muda-se o fuso horário
terça-feira, 17 de maio de 2011
Se isto é um jornal
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Livros e pessoas
Antes de mais, gosto de livros. Muito. De literatura, sim, mas principalmente de livros. Gabo-lhes as capas, as boas edições, o tipo de letra, o cheiro do papel, as páginas prontas a folhear pela primeira vez. Depois, o que eles significam: gostar de livros é gostar de muita coisa ao mesmo tempo. É, por exemplo, gostar de decoração: que melhor sugestão existe para dar cor e classe a uma casa? E depois, fundamentalmente, gosto de livros porque gostar de livros é também gostar de pessoas: elas são o espelho do que lêem. E os livros, quando bons, são também um retrato das pessoas. É por isso – por gostar de livros e de pessoas, de pessoas e de livros – que acho natural querer trabalhar no meio deles. Por entre pessoas e livros, livros e pessoas.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Geracion à la rasca - ou assim
Se disser o que penso sobre este blogue a minha carreira acaba agora
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Visões do País (2)
segunda-feira, 28 de março de 2011
A casa do dono de um bocadinho deste blogue
domingo, 27 de março de 2011
Visões do País
sábado, 12 de março de 2011
Um país à beira de um ataque de nervos
Isto comove, atenção: pessoas com cartazes a dizer "Experimentem viver com 500 euros" ou "Experimentem viver à rasca"estão mesmo a sugerir (quem não sabe, e há muito quem, infelizmente, saiba) que se experimente a angústia em que eles vivem 365 dias por ano. E quem, de filhos ao colo, reclamou um futuro melhor para eles (já não por si), também o fez sincera e legitimamente. E isto, porque isto sou eu e tu, sensibiliza. Comove.
Mas não há vitória. E se calhar não há vitória precisamente onde alguns a viram: nas 300 mil pessoas que saíram à rua. São muitos. São demasiados. Significam demasiadas coisas. É que a única coisa comum a estas 300 mil pessoas é serem portuguesas - ou estarem em Portugal, em última instância. Tudo o resto é diferente. Cada um reclama coisas diferentes.
Não deixa de ser irónico o facto de numa manifestação se juntarem pessoas apolíticas ou apartidárias, mas também de direita e de esquerda, militantes ou simpatizantes do PSD, CDS como do Bloco, PC e até, imagine-se, do PS. Ora isto traz um problema acrescido: sendo claros, muitas destas pessoas manifestaram-se umas contra as outras.
Embora a precariedade ou as dificuldades económicas de vária ordem sejam comuns a uma grande maioria, o facto é que cada um dos 300 mil reclama coisas diferentes e soluções diferentes. E pior: apontando os culpados da situação a que o país chegou, enganam-se redondamente. Os culpados não são os políticos. Embora também sejam, claro. Mas quem são os "políticos"? Que classe abstracta é esta? Deputados e governo, ok. Mas e os homens da nossa terra, os presidentes de câmara, os presidentes de junta de freguesia, também são culpados? À sua escala, são mais sérios ou competentes que os deputados ou o governo? E se alguns dos 300 mil presentes na manifestação tivessem sido "políticos" - e já excluindo a competência técnica - teriam tido mais bom senso, sentido cívico, responsabilidade, noção de serviço público do que os "políticos"? A resposta a esta pergunta - a avaliar pelos "políticos", mas também pelos empresários, pelos funcionários públicos, pelos trabalhadores por conta de outrém ou dos estudantes - é não. Porque políticos somos todos - é uma questão de oportunidade. Eles - os políticos, os maus, os culpados disto tudo - somos nós. Os políticos são maus? São. E os empresários, são bons? E os funcionários públicos? E os trabalhadores por conta de outrém? E os estudantes?
Naturalmente, há excepções. Na política, também. Mas o verdadeiro problema do País - e é um problema crónico, e que não está sequer em vias de resolução - é que nós, enquanto portugueses, enquanto cidadãos, não somos melhores do que os políticos como políticos. E assim, não há protestos que nos salvem.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
O fado explicado em castelhano

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Declaração
Mas lembrar-se de merdas que não aconteceram - ou que, por exemplo, não se viveu -, isso mete um gajo noutro domínio: o domínio psiquiátrico. Ora imaginem que eu, agora, começava a contar - com pormenores - as minhas incursões na Revolução Francesa. De como foi bonito o 25 de Abril de 74. Como é que isto vos soava? Exacto. Mas bem, o problema é que isto não é tão inusitado assim. Eu, por exemplo, convivo com pessoas que sofrem deste problema: é gente que se recorda como se fosse hoje de um Benfica - Sporting de 1979 que acabou 3-2 para o Benfica. Isto gente que vem a nascer em 80 e troca o passo. Mas se formos distraídos, a coisa segue, nem damos por isso. Quem diz um Benfica - Sporting, diz um Farense - FC Porto, um Tirsense - Barreirense ou uma telenovela qualquer.
Vem isto a propósito de uma declaração. De amor. A minha memória é fraquinha mas permite-me opinar, com a propriedade possível: Ronaldo Nazário de Lima foi o mais extraordinário jogador de futebol que vi jogar. Não há iutúbe que me desminta. Ronaldo era estrela, mágico, portento, força da natureza. Fenómeno. Já está: 34 anos e muitos quilos (e golos, já agora) depois, alguns filhos (não se sabe bem quantos, se quatro, se dez), uma vasectomia e uns travestis. Do alto dos meus dez ou onze anos, aquilo que fez bastaria para ser o melhor de sempre. De longe.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Correntes d'Escritas 2011
Do caos também sai grande literatura

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Da razão e seus limites

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Agora sem mãos: memória descritiva de um Sevilla - Real Madrid
D'os Meus Livros

domingo, 23 de janeiro de 2011
Do Atlântico Sul
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Imperial Bedrooms
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Leitura(s)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Da Argentina (e não só) para o Mundo: Dixit - como quem diz - e i - de informação

A vossa atenção para uma magazine de informação online sediada em Buenos Aires mas que se pretende venha a ser de abrangência mundial. Com correspondentes em vários pontos do Globo - incluindo este que vos escreve, a partir de Portugal - o (ou a?) Dixiti é já um filho da segunda década deste século XXI. Aqui vos deixo um excerto do artigo original (em português) que publiquei no "primeiro número" do Dixiti:
"Um País contra um Nobel da Literatura, José Saramago, ou a reconciliação (póstuma) à vista
Mas esta história não tem (só) a ver com política. Oriundo de uma família humilde (os pais e avós eram agricultores) nada em José de Sousa Saramago (nascido em 1922) fazia antever um futuro brilhante. Sem dinheiro para estudos universitários, frequentou o ensino técnico, após o que começou a trabalhar como serralheiro mecânico. Ao mesmo tempo, o seu interesse pela cultura e pela literatura avoluma-se: enquanto trabalha durante o dia, à noite frequenta bibliotecas e apaixona-se pelos livros. Aos 25 anos, José Saramago publica «Terra do Pecado», o seu primeiro romance, que acabou ignorado. Depois deste fracasso, o autor tenta publicar uma segunda obra, de nome «Clarabóia», que acaba rejeitada pelo seu editor – e que, devido ao facto, permanece inédita até aos dias de hoje. Saramago investe então na poesia, área em que publica cinco volumes – também relativamente mal sucedidos. No entanto, José Saramago consegue algum respeito no mundo editorial e passa a trabalhar na área da edição e, posteriormente, dos jornais: trabalha no Diário de Lisboa e no Diário de Notícias (DN).
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, que acaba com o Estado Novo – uma ditadura imposta muitos anos antes, por António de Oliveira Salazar, então já falecido -, José Saramago volta ao DN como director-adjunto. O período que se seguiu à revolução, em que estava iminente a implantação de um regime afecto à União Soviética, lançava José Saramago, um iminente intelectual comunista, como o ideal para fazer vingar a revolução (também através da influência do mais importante jornal da época). Uma vez no cargo de director-adjunto do jornal, Saramago não deixou dúvidas em relação ao que queria para o futuro do país e do jornal. “O DN vai ser o instrumento, nas mãos do povo português, para a construção do socialismo”, escrevia. Mas nem toda a gente concordava com isto. Por isso, a 27 de Agosto de 1975, 22 jornalistas são despedidos por delito de opinião. “Informação revolucionária não se faz com jornalistas contra-revolucionários. Por isso, os que eram foram afastados”, justifica o DN em texto não assinado, mas da responsabilidade de José Saramago. Esta era a primeira polémica em que se via envolvido. (...)"
Raios partam se o Messi não é o melhor de sempre
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
60 anos depois, um sueco blasfema

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Um início sustentado
"1. Um blog tem de ser um compromisso sério e livre.
2. Um blog deve ter um tema e explorá-lo profundamente.
3. Blogar deve ser partilhar conhecimento e ter gosto nisso.
4. Postar com frequência deve ser uma preocupação.
5. Um blog é um espaço público, não é uma conversa de amigos.
6. Um blog tem uma voz própria e deve ser coerente com essa voz.
7. Antes de começar um blog, pensar duas vezes.
8. Vale a pena apostar num domínio próprio e brincar com as ferramentas.
9. Um blog pode ser a porta de entrada na profissão de jornalista.
10. Os blogs não estão fora de moda."
Se quiserem ler mais, e vale sempre a pena ler mais, vão directamente à fonte.
Posto isto, dizer que, e mesmo com tantas boas recomendações, provavelmente este blogue não as seguirá. Até ver.